segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Boas Festas

Se reflectíssemos mais e melhor sobre isto, então sim, o Natal seria sinónimo de Paz, Solidariedade e Família.


O dinheiro suscita a maior parte das vociferações que ouvimos: é o dinheiro que fatiga os tribunais, é ele que coloca pais e filhos em desavença, é ele que derrama venenos, é ele que põe a espada nas mãos dos assassinos e das legiões; ele está manchado de sangue nosso; é por causa dele que as discussões de marido e mulher ressoam na noite, é por causa dele que a turba aflui aos tribunais; por causa dele, os reis massacram, saqueiam e arrasam cidades que demoraram séculos a construir, para procurarem ouro e prata entre as cinzas. Vês os cofres arrumados a um canto? É por causa deles que se grita até os olhos saírem das suas órbitas e que os brados ressoam nos tribunais; é por causa deles que juízes vindo de regiões longínquas se reúnem para decidir qual é a avidez mais justa. E quando, não por um cofre, mas por um punhado de ouro ou por um denário que se dispensaria a um escravo, se perfura o estômago de um velho que ia morrer sem herdeiros? E quando, possuindo vários milhares, um usurário de pés e mãos deformados, incapaz sequer de mexer no dinheiro, reclama, furioso, os juros dos seus asses? Se me apresentasses todas as minas e todo o dinheiro que delas retiramos, se pusesses aos meus pés todos os tesouros escondidos (pois a avareza devolve ao interior da terra aquilo que dela fora retirado com maldade). não creio que todas estas riquezas conseguissem impressionar um homem virtuoso. Quão risíveis são todas as coisas que nos provocam lágrimas!
Séneca,

sábado, 27 de novembro de 2010

Também a mim...

Devem-me dinheiro

José Sócrates em 2001 prometeu que não ia aumentar os impostos. E aumentou. Deve-me dinheiro. António Mexia da EDP comprou uma sinecura para Manuel Pinho em Nova Iorque. Deve-me o dinheiro da sinecura de Pinho. E dos três milhões de bónus que recebeu. E da taxa da RTP na conta da luz. Deve-me a mim e a Francisco C. que perdeu este mês um dos quatro empregos de uma loja de ferragens na Ajuda onde eu ia e que fechou. E perderam-se quatro empregos. Por causa dos bónus de Mexia. E da sinecura de Pinho. E das taxas da RTP. Aníbal Cavaco Silva e a família devem-me dinheiro. Pelas acções da SLN que tiveram um lucro pago pelo BPN de 147,5 %. Num ano. Manuel Dias Loureiro deve-me dinheiro. Porque comprou por milhões coisas que desapareceram na SLN e o BPN pagou depois. E eu pago pelo BPN agora. Logo, eu pago as compras de Dias Loureiro. E pago pelos 147,5 das acções dos Silva. Cavaco Silva deve-me muito dinheiro. Por ter acabado com a minha frota pesqueira em Peniche e Sesimbra e Lagos e Tavira e Viana do Castelo. Antes, à noite, viam-se milhares de luzes de traineiras. Agora, no escuro, eu como a Pescanova que chega de Vigo. Por isso Cavaco deve-me mais robalos do que Godinho alguma vez deu a Vara. Deve-me por ter vendido a ponte que Salazar me deixou e que eu agora pago à Mota Engil.
António Guterres deve-me dinheiro porque vendeu a EDP. E agora a EDP compra cursos em Nova Iorque para Manuel Pinho. E cobra a electricidade mais cara da Europa. Porque inclui a taxa da RTP para os ordenados e bónus da RTP. E para o bónus de Mexia. A PT deve-me dinheiro. Porque não paga impostos sobre tudo o que ganha. E eu pago. Eu e a D. Isabel que vive na Cova da Moura e limpa três escritórios pelo mínimo dos ordenados. E paga Impostos sobre tudo o que ganha. E ficou sem abonos de família. E a PT não paga os impostos que deve e tenta comprar a estação de TV que diz mal do Primeiro-ministro. Rui Pedro Soares da PT deve-me o dinheiro que usou para pagar a Figo o ménage com Sócrates nas eleições. E o que gastou a comprar a TVI. Mário Lino deve-me pelos lixos e robalos de Godinho. E pelo que pagou pelos estudos de aeroportos onde não se vai voar. E de comboios em que não se vai andar. E pelas pontes que projectou e que nunca ligarão nada. Teixeira dos Santos deve-me dinheiro porque em 2008 me disse que as contas do Estado estavam sãs. E estavam doentes. Muito. E não há cura para as contas deste Estado. Os jornalistas que têm casas da Câmara devem-me o dinheiro das rendas. E os arquitectos também. E os médicos e todos aqueles que deviam pagar rendas e prestações e vivem em casas da Câmara, devem-me dinheiro. Os que construíram dez estádios de futebol devem-me o custo de dez estádios de futebol. Os que não trabalham porque não querem e recebem subsídios porque querem, devem-me dinheiro. Devem-me tanto como os que não pagam renda de casa e deviam pagar. Jornalistas, médicos, economistas, advogados e arquitectos deviam ter vergonha na cara e pagar rendas de casa. Porque o resto do país paga. E eles não pagam. E não têm vergonha de me dever dinheiro. Nem eles nem Pedro Silva Pereira que deve dinheiro à natureza pela alteração da Zona de Protecção Especial de Alcochete. Porque o Freeport foi feito à custa de robalos e matou flamingos. E agora para pagar o que devem aos flamingos e ao país vão vendendo Portugal aos chineses. Mas eles não nos dão robalos suficientes apesar de nos termos esquecido de Tien Amen e da Birmânia e do Prémio Nobel e do Google censurado. Apesar de censurarmos, também, a manifestação da Amnistia, não nos dão robalos. Ensinam-nos a pescar dando-nos dinheiro a conta gotas para ir a uma loja chinesa comprar canas de pesca e isco de plástico e tentar a sorte com tainhas. À borda do Tejo. Mas pesca-se pouca tainha porque o Tejo vem sujo. De Alcochete. Por isso devem-me dinheiro. A mim e aos 600 mil que ficaram desempregados e aos 600 mil que ainda vão ficar sem trabalho. E à D. Isabel que vai a esta hora da noite ou do dia na limpeza de mais um escritório. Normalmente limpa três. E duas vezes por semana vai ao Banco Alimentar. E se está perto vai a um refeitório das Misericórdias. À Sexta come muito. Porque Sábado e Domingo estão fechados. E quando está doente vai para o centro de saúde às 4 da manhã. E limpa menos um escritório. E nessa altura ganha menos que o ordenado mínimo. Por isso devem-nos muito dinheiro. E não adianta contratar o Cobrador do Fraque. Eles não têm vergonha nenhuma. Vai ser preciso mais para pagarem. Muito mais. Já.

Mário Crespo,Penthouse, Novembro de 2010

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Os Lusíadas, actualização


As armas e os aldrabões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mentiras e aldrabices nunca dantes navegados
Passaram ainda além da decência humana.
Em perigos, pobrezas e impostos esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente politicamente remota edificaram
Novo Reino de corruptos que tanto sublimaram;

2.E também as memórias gloriosas
Daquele Povo que foram dilatando
A Fé, da pátria, dilacerada.
De Norte a Sul andaram devastando,
E aqueles que por obras valorosas
Se vão da lei socratiana libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

retirado da net, de autor desconhecido

terça-feira, 24 de agosto de 2010

sábado, 24 de julho de 2010

Ser ou não Ser Actual - II

O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce… O comércio definha, A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.

Eça de Queirós

sábado, 17 de julho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010

Mentiras e tão só...

A Mentira é a Base da Civilização Moderna…..

É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc… A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.

Teixeira de Pascoaes

quarta-feira, 21 de abril de 2010

sexta-feira, 2 de abril de 2010

sábado, 6 de março de 2010

Ser ou Não Ser Actual


Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno sacrifício
De trinta contos só! por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO
Soneto (quase inédito), escrito em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos.
Tão actual em 1969, como hoje.. depois ainda dizem que a tradição não é o que era!!!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Dia de Reis

Estas sortidas de casa em casa, tocando e cantando o Menino, faziam-se peloAno Novo e Reis. Mas à meia-noite deste último dia, procedia-se a um dos maiores rituais que jamais se fizeram na terra das açoteias: a espera dos Reis. (...)
A partir das dez horas da noite, a maioria da vila cubista caminhava estrada afora até aos lendários Pinheiros de Marim. Na frente dos pinheiros, acumulava-se um mar de gente a comprimir-se e a acotovelar-se para esperar os Três Reis que lá dos lados da Armona viriam trazer as ofertas aos meninos. À expectativa juntava-se o desejo da chegada da música, uma das bandas da terra.
Música chegada, emergia uma barulheira e uma confusão, esperando-se a todo o momento o burro a anunciar a vinda, já atrás, dos Reis, montados em cavalos ou mulas, na substituição dos camelos. Não demorava muito e ei-los a aparecer com vestes de tule e turbantes de seda branca, muito direitos sobre as muares. Era então um delírio, na confusão dos verticais pinheiros. A música rompia esperando a chegada de facto, para de seguida entrar na retaguarda dos orientais monarcas que dos alforges começavam a atirar oferendas: rebuçados, laranjas, e (vejam só) notas ao tumultuoso acompanhamento.
Em anos mais recentes, por ser exagerada a distância aos pinheiros, passou a fazer-se a espera na Patinha. Todo este local e parte da Avenida Dr. Bernardino da Silva ficavam repletos de pessoal, nessa noite. Contrariamente à devida orientação, os reis passaram a vir do Norte, por detrás da azinhaga da fábrica do Reis Silva, o que em nada prejudicava o entusiasmo nem o cortejo. O mar de gente, enquanto não surgia o burro anunciador - primeiro elemento da «procissão», agitava-se, rumorejava, e gritava de impaciência. A todo o momento ouvia-se: «parece que já vêm além». Desilusão com grandes ahs! Ainda não era. Por fim, com gritaria inesperada aparecia o burro trazendo um disfarçado escarrapachado no lombo. Principiava a «embaixada». Mais atrás, de olhinho azul, vinha o torto Manita, bochechudo, sustendo a haste com a estrela do oriente lá em cima, bem acesa. Perguntava-se ainda quem trazia a estrela. Era o Zé Manita! Era o Zé Manita! Mais atrás, ainda, vinham quatro ou cinco colunas de gaiatos misturados com matulões; finalmente, no meio duma dúzia de archotes de retenidas bem acesos, montando três escanzeladas alimárias, com passo pachorrento, aparecia, em carne e osso, o cenário do Baltazar, Belchior e Gaspar. O Baltazar era o Tocha que nos pés descalços apenas trazia as grandes e espessas unhas negras; o Gaspar era o Teófilo-pretinho que o inesquecível Zé da Mónica trouxera da América; e o Belchior era o Bocage, engraxador, de olhos aguados enterrados na papuda cara rosada de beiços finos. Embora mal calçados, as vestes eram solenemente orientais. O cortejo avançava calmamente, ouvindo-se aqui e ali «Viva aos Reis», debaixo duma marcha lenta, tocada pela banda. De vez em quando, parava nos pontos considerados mais importantes da Avenida Dr. Bernardino da Silva e por fim na da República. Em cada paragem havia palmas aumentando a gritaria. Assim em passos lentos com os camelos dos reis substituídos por mulas, se chegava ao cinema velho (Cinema-Teatro) deslumbrantemente iluminado por dentro e por fora. Sempre em alarido as reais figuras apeavam-se e avançavam, deitando solenes saudações ao apinhado público que as esperava. De sorrisos esboçados dirigiam-se com lentidão ao palco, onde uma comissão de honra os aguardava. Um dos elementos da comissão discursava, dizendo da grande honra que a terra de Olhão sentia em receber suas majestades. Acabado o protocolo, os reis procediam à distribuição dos brinquedos e de notas (falsas) pelo pessoal miúdo.
No fim, a música rompia numa alegre marcha; os reis eram abraçados; e o pessoal saía, indo, de novo, encher a Avenida que só se esvaziava de madrugada.


in O meu Olhão (crónicas) e Contos de Olhão - Diamantino Piloto


Diamantino Piloto descreveu assim a Espera dos Reis. Perdida há mais de cinquenta anos, esta verdadeira festa foi hoje recuperada na sua essência. Os camelos se calhar não foram lá uma grande ideia, às roupas dos Magos faltou a grandiosidade de tão ilustres personagens, mas a adesão das pessoas foi grande.
É sempre bom quando se recuperam as memórias, as tradições, as raízes, e só por si isso ajuda a superar as falhas que aparecem e que decorrem de eventuais e habituais faltas de empenho.
São eventos desta natureza que fazem cartaz e marcam a diferença.
Para o ano de certeza que será muito melhor!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Ano Novo... Que venha a Vida Nova!

Bem precisados estamos de uma vida nova. Temos dito isso nas conversas de café, nas conversas em casa, nas salas de espera do centro de saúde ou das finanças.Até o Senhor Presidente da República nos fez saber disso na sua mensagem tradicional de Natal.
Precisamos com toda a urgência que se dê uma grande volta a isto tudo o que nos tem acontecido. Precisamos que as empresas se segurem e não mandem mais gente para o desemprego, precisamos que os bancos ganhem vergonha e não exibam tantos lucros, precisamos que a justiça funcione toda na mesma direcção e sem pressões, precisamos que os professores tenham mais tempo para ensinar e não andem mais carregados de papel administrativo, precisamos que as polícias tenham meios para cumprir as suas tarefas, precisamos... precisamos... precisamos... enfim, precisamos de ser tratados com respeito e dignidade e que não façam de nós, povo, um verbo de encher, um saco de pancada de impostos, taxas, restrições, normativos, filas de espera, desigualdades.
Precisamos de manter viva a Esperança e a Confiança em quem nos governa.
E porque precisamos , não nos devemos calar perante o que nos tiram ou o que não nos querem dar, e quem nos governa tem a obrigação de nos ouvir!