![]() |
Pintura de Vasco Pisco |
A pré - campanha eleitoral na nossa terra assemelha-se perturbadoramente a uma noite de fado vadio de outros tempos: fadistas anónimos,cada um canta como sabe, reage-se mal às críticas e aos apupos e o ponto alto são as desgarradas. Os instrumentistas tentam acompanhar os desafinados ou fora de tempo, suando as estopinhas para não sair do figurino. O público ergue a voz nos refrãos mais conhecidos, bate palmas nos compassos de espera e grita - Ah! Boca Linda! se o final do fado foi a contento.
No meio de tanta nota, chouriça assada e copos de vinho tinto aparece sempre um intelectual arredado da sociedade, carregado de amargura, mas filosoficamente certo e correto que faz questão de pôr tudo na ordem, declamando palavras intensas que escorrem dos seus versos rejeitados pelo poder, por conter verdades inabaláveis. Aqui, o público divide-se. Ora se emociona pelo conteúdo, ora se enfurece pela bastardia das palavras. Alvoroço na audiência. O intelectual, qual embuçado régio, sai, contemplando já a próxima intervenção. Quem será o audaz? Quem será o provocador?
Não ando longe da verdade com semelhante comparação. Basta frequentar a rede social do livro. Cada vez mais perfis, cada vez mais falsos. Ninguém dá a cara. O jogo do gato e do rato tomou conta da noite de fados vadios.
Sem comentários:
Enviar um comentário