sábado, 18 de outubro de 2008

Carta do Pescador Olhanense

Farcisca

À díase, do mar dâse Berlêngase, a sete bráçase e mêa d' água, embararem-se-m' âze grósêrase, cande vê de lá o mariola do tê pai e me dezeu assim :
- Ó hôm!!! tu ése um montanhêre, hôm! Tu fázez um grande salcrafice em virese ó mar !!!...
- Má o que é que você me dize, hôm?!
- Digue-te iste e nã casase ca 'nha filha !
Alha-me-ze Farcizeca ! ê cá ântese cria cu tê pai me dèsse doi ó trê estragaços da cara, q'êl me dessesse aquil que tá ali à vizete de gente!

Viémese pá terra e a companha do barque nã falava doutra coisa.
Nísete, vê de lá o mane Zé Xaveca e me dezeu assim:
-Mó, ó móce! Na te zánguese, ná t' arráleze, móce! Taze-te arralar?
- Atão nã m´ êde arralar?
- Nã te ralese rapá, se nã casáreze c'a filha dele casaze cá c'a minha hôm!


É p'a que vêisase, Farcizeca, quê cá inda tenhe pretendêntase. Tu pensase cú tê pai é o Prencêse D.Carlos? A tua mãi a Rainha D. Imélia e os tês ermãos os Enlefantesinhes ?
Alhamese ! ele é mai brute cá mãi dos penhêrese do mane João Luice.

Dêxa lá cuma viage quê face ó mar de Larache , ganhe o denhêre às braçadase. Compre um chapé de côque, uma vengala, botas de rengedêra com tapadôiraze, passe a barlavante da tu porta e arraste os peses cóm' um gal. Tu vêse-me e falase-me, mai ê cá veje-te e nã te fale.

Mai, sê cá sentir alguma coisa do mê côrpe, ai 'nha mãe!!! Digue logue que forem vocêiaze que me fazerem mal! Qu'ê cá nã quér que vócêiaze andem a falar mal de mim p'êssese tânquese e rebêrese!

Ê bem sê que tu tenz' uma linda máineca de quez'tura, mai ê cá na sei s'èze tan prefêta de mãoze come dizeze.

Na m'arrale! Cá só quer que tu t'allêmbreze dos mês doze brenhoisinhes (ponha lá iste da carta,mano Manel, qu'ela já m'entende).

Digue tiste e nã memporta com o pôrque do tê pai.
Perdoi a arção.

Embróise

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Como diz?


Charingar ou cheringar:
seringar; maçar; tramar; apoquentar;importunar; estragar; lixar; barimbar.

Uso:
não me charingues;

charingaste isto tudo;

estou charingado contigo;

agora é que te charinguei

Tames xarengadze: estamos tramados

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Apresentação

Razão tinha o meu pai em me mandar à escola.
-Vai, que ainda te vai fazer muita falta, as letras e saber assinar o nome. Mesmo que não te dêem as botas, não faz mal! Levas umas, novinhas em folha, pela feira.
Eu fui. Não me arrependo. Saber ler e escrever valeu-me de muito.
Sou João. Como muitos aqui. Viajei. Conheci alguma coisinha por essas terras fora.
Agora ando a descansar. E a ver. E olhem que vejo muita coisa.
Estas linhas darão conta do que vou vendo. Sentado na Avenida ou na esplanada lá em baixo, no bate-estacas.