segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Tirar a Máscara

É um lugar comum, velho e gasto, dizermos que o Carnaval já não é o que era e que mascarados andamos o ano todo. É verdade. E como os lugares comuns banalizam a vida e conferem-lhe uma monotonia que não interessa, não irei falar do Carnaval. Nem de lugares comuns.
Atravessamos tempos difíceis, a todos os níveis. Dizem que a culpa é da crise. Mas se bem me lembro, em todas as recentes décadas atravessámos crises. Mas nenhuma como esta. É verdade. E esta é das grandes. Daquelas que a História, no seu tear dos acontecimentos, vai deixando cair uma laçada quase por século. Tivemos a de 29, no século passado, e eu ouvia contar da boca do meu pai casos e mais casos de falências, ruínas, desemprego e fome. Um horror a que não escaparam os ricos, e os pobres viram nele o marasmo das suas vidas e a profundidade da sua pobreza. Muitos saíram daqui para países onde, e apesar de tudo, ainda havia uma luz ao fundo do túnel. Os que cá ficaram, depois do abrandamento da crise, entraram em outro túnel, o da ditadura. Equilibraram-se finanças, remediaram-se dificuldades, mas o pavio da liberdade foi ficando cada vez mais curto. Era esse o preço a pagar pela superação da crise. Foi em Portugal e por outros países da Europa.
Dizem os entendidos nestas coisas que a seguir a grandes e graves crises económicas, somam e seguem os regimes totalitários, ditatoriais, de chefe e partido único, cujo argumento é a unidade em torno de um objecto colectivo e único: salvar a nação. Dizem os entendidos também que a caminhada é quase silenciosa, mansa, encapotada e os povos só se dão conta quando sentem apertar-se o nó em torno da palavra, da ideia, do pensamento.
Ora bem, se a História se repete e se os sinais de tal atitude são quase imperceptíveis, é bom que estejamos atentos, quer à História quer aos sinais. É bom que estejamos atentos à corrupção, à impunidade, à má gestão encapotada, à ausência de explicações, à propaganda de serviço feito sem o estar, às grandes tiradas de iniciativas de salvação da crise e aos seus escassos efeitos. É bom que não olhemos para o lado, fingindo que tudo vai ficar bem quando os Americanos resolverem os seus problemas. É bom que não pensemos “ isto agora tem de ser assim para poder encarreirar melhor”. É bom mantermos a memória viva e o discernimento em actividade. Mais vale prevenir do que remediar, e isto meus amigos, não é um lugar comum.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Rotundas

Como eu gostaria de ter dado ouvidos ao meu pai e ter estudado para engenheiro da construção civil. Hoje estaria cheio “dele” e saúde. Assim fico-me só pela saúde. Hoje compreenderia muito mais coisas. Assim continuo sem compreender como é que alguém constrói ou manda construir rotundas. Quando é para facilitar a circulação num cruzamento que se apinha em horas de ponta, compreendo e para isso não é preciso ter estudos. Mas quando são rotundas de acesso a mamarrachos onde o contribuinte é convidado apelativamente ao consumo, necessário ou não, aí falha-me a Universidade!
Vejamos, lá em baixo, junto à ria, varreram os pescadores e demais gentes desqualificadas (para os que mandam) e estão a construir casas de luxo e um hotel. Vai daí, nasce uma rotunda. Para facilitar o acesso. Para não se ter muito trabalho em andar para baixo ou para cima até à próxima saída. Quem mandou fazer, quem pagou, tem sido motivo de discussão. Quanto a mim, de uma maneira ou de outra, quem vai pagar isso tudo no fim é o contribuinte.
O outro caso, se calhar ainda mais grave do que este, é a rotunda que está a nascer na EN125. Aqui é que me fazem falta todos os canudos que poderia ter tirado. Não compreendo o traçado, não compreendo a largura da faixa de rodagem, não compreendo a perigosa proximidade, e quase perpendicularidade sobre a suposta via, das varandas dos apartamentos laterais vizinhos, não compreendo a necessidade.
Estive lá ontem a vê-la detalhadamente. Olhei também para aquele adamastor de betão, desenquadrado de quaisquer traçados condizentes com a cidade, desenquadrado de qualquer necessidade básica da população, e não lhe reconheci a urgência de se retalhar uma estrada nacional, já de si problemática.
Faltam-me os estudos universitários adequados para compreender se esta(s) obra(s) é (são) sinal de progresso. Isto é ter qualidade de vida?
Lembro-me de, aqui há muitos anos, ter uma vizinha que ficou rica de repente e andava a fazer inveja com os “cachuchos” nos dedos, mas à hora do almoço, incomodava a minha Cila com pedidos de empréstimos de alguidares para amanhar o peixe, porque não os tinha...