sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ele há coisas!...

Dando volta aos muitos papéis que para aqui andam abandonados e amarelecidos, descobri este "pedido" publicado há muitos. Ao que parece este poema foi dirigido ao Ministro da Agricultura do governo de Salazar, como forma de pedir adubos. Por mais estranho que pareça, o senhor que o escreveu não foi preso e Salazar até se fartou de rir (??!!!) quando o leu:


- E X P O S I Ç Ã O -

Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, senhor Ministro,
erguemos até vós, humildemente,
uma toada uníssona e plangente
em que evitámos o menor deslize
e em que damos razão da nossa crise.
Senhor: Em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca!
- A matéria, em questão, chama-se caca.


Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.


Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso a sério,
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
E mijem-nos, também, por caridade!
O senhor Oliveira Salazar
quando tiver vontade de cagar
venha até nós solícito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo com sossego,
ajeite o cú bem apontado ao rego,
e… como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?
...Então, comprima, aperte os intestinos;
se lhe escapar um traque, não se importe,
… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
Quantos porão as suas esperanças
n'um traque do Ministro das Finanças?
...E quem vier aflito, sem recursos,
Já não distingue os traques dos discursos.
Não precisa falar! Tenha a certeza
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos n'elas.


Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.


Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E todos os penicos portugueses
durante, pelo menos uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas;
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sente a paixão nostálgica da merda…


Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.


Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!...
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.
Venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E, desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta.


Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.


Pela Junta Corporativa dos Sindicatos Reunidos, do Norte, Centro e Sul do Alentejo
Évora, 13 de Fevereiro de 1934
O PresidenteD. Tancredo (O Lavrador)

domingo, 17 de maio de 2009

Glorioso Olhanense


Neste ambiente de festa que se vive em Olhão, recordo aqui o Sporting Clube Olhanense da década de 40, na escrita de Leonel Maria Baptista:


Isso porque
O Sporting Clube Olhanense,
além do seu recente passado glorioso,
possuía nessa época
uma equipa de grande expressão,
cujo futebol arte
-duma beleza sem igual-
fazia enorme sensação
Pelos estádios de Portugal…
E ganhar-lhe no seu reduto
não representava para qualquer “onze”
- nem mesmo considerado grande –
uma tarefa comesinha,
a não ser quando facilitada
por juízes corruptos ou à toa
como o famigerado Palhinha
a quem o Joaquim Paulo
quase fez engolir o apito
numa partida com o “Sporting de Lisboa”.
Era, de facto, um grupo aguerrido e valoroso
Esse Olhanense dos meus tempos de menino
Cuja retaguarda
A todos entusiasmava e fazia vibrar com:
As sensacionais defesas do Abraão;
As cabeças em mergulho
Do João Rodrigues – “O Submarino” –
E as vigorosas entradas do Nunes – “O Ginjão” –.
Se a defensiva desse “onze" glorioso
Era firme e valente,
Não o era menos
O trio dinâmico e voluntarioso
Posicionado à sua frente,
em que, recuado no centro,
actuava o destemido e elástico Loulé,
a quem a moçanhada chamava
de “Boneco do borracha
pois mal caía no chão
logo se punha de pé
prontinho para o vai ou racha…
Os outros dois integrantes do trio
- que pugnavam mais avançados
Na área intermédia de disputa –
Eram:
O excelente e denodado Grazina
- um grande e incansável guerreiro
Que jamais se negava à luta –
E o calmo e pendular João dos Santos
Que sempre se dava ao jogo por inteiro.
Era, todavia, a linha atacante
A que aos adeptos mais empolgava,
Quer pela enorme capacidade operante,
Quer pelo futebol alegre e vistos
Que tão primorosamente praticava

Jogadas de categoria extra,
Só próprias de grandes virtuosos,
Como tantas, de enorme tecnicismo e beleza,
Do Joaquim Paulo e do João Palma.

Tanto assim era
Que o Cabrita e o Salvador,
Dois goleadores eméritos,
Chegaram a envergar a “camisa das quinas”
Não, como tantos outros, por favor,
Mas por reais e reconhecidos méritos
Que também eram apanágio
do Palmeiro e do Moreira,

Quando esse grupo fabuloso ganhava,
O que era absolutamente normal,
Todos se sentiam invadidos
Por uma enorme alegria
Que a moçanhada exteriorizava
Com calorosos joguinhos de bola
Até escurecer o dia.

Como eles
Eu também joguei à bola
Pelos campos e larguinhos de Olhão,
Desde o Largo do Zé do Cerro até ao da Feira

Porque para mim, jogar futebol
Era apenas a minha melhor brincadeira.



Foto:SCO, 90 Anos de história, Raminhos Bispo
Texto: A Vila de Olhão da minha Recordação, Leonel Maria Batista

domingo, 10 de maio de 2009

A falar nos entendemos...

É sabido que numa comunidade de falantes de uma determinada língua, nem todos a falam com a correcção gramática descrita.
Olhão não foge à regra. E se já vai sendo raro ouvir-se o linguajar típico do olhanense antigo, que alguns, sem qualquer base científica, até lhe chamam dialecto, é muito comum depararmo-nos com corruptelas linguísticas, ouvidas aqui e ali.
Um amigo lembrou-se de reunir alguns destes vocábulos muito bem apanhados e eu vou deixá-los aqui:

Alevantar

O acto de levantar mas com convicção, com o ar de 'a mim ninguém me come por parvo!... alevantei-me e fui-me embora!'.

Amandar
O acto de atirar com força: 'O guarda-redes amandou a bola para bem longe'

Aspergic
Medicamento português que mistura Aspegic com Aspirina.

Assentar
O acto de sentar, só que com muita força, como fosse um tijolo a cair no cimento.

Capom
Porta de motor de carros que quando se fecha faz POM!

Destrocar
Trocar várias vezes a mesma nota até ficarmos com a mesma.

Disvorciada
Mulher que se diz por aí que se vai divorciar.

Entropeçar
Tropeçar duas vezes seguidas..

Êros
Moeda alternativa ao Euro, adoptada por alguns portugueses.

Falastes, dissestes...
Articulação na 4ª pessoa do singular. Ex.: eu falei, tu falaste, ele falou, TU FALASTES..

Fracturação
O resultado da soma do consumo de clientes em qualquer casa comercial.
Casa que não fractura... não predura.

-des
Verbo 'haver' na 2ª pessoa do singular: 'Eu hei-de cá vir um dia; tu há-des cá vir um dia....'

Inclusiver
Forma de expressar que percebemos de um assunto. E digo mais: eu inclusiver acho esta palavra muita gira.Também existe a variante 'Inclusivel'.

Mô (Moss)
A forma mais prática de articular a palavra MEU e dar um ar afro à língua portuguesa, como 'bué' ou 'maning'.
Ex.: Atão mô, tudo bem?
ou 'Moss, deslarga-me da mão'

Nha
Assim como Mô, é a forma mais prática de articular a palavra MINHA.Para quê perder tempo, não é? Fica sempre bem dizer 'Nha Mãe' e é uma poupança extraordinária.

Númaro
Também com a vertente 'númbaro'. Já está na Assembleia da República uma proposta de lei para se deixar de utilizar a palavra NÚMERO, a qual está em claro desuso. Por mim, acho um bom númaro!

Parteleira
Local ideal para guardar os livros de Protuguês do tempo da escola.

Perssunal
O contrário de amador. Muito utilizado por jogadores de futebol. Ex.:'Sou perssunal de futebol'. Dica: deve ser articulada de forma rápida.

Pitaxio
Aperitivo da classe do 'mindoím'.

Prontus
Usar o mais possível. É só dar vontade e podemos sempre soltar um'prontus'! Fica sempre bem.

Quaise
Também é uma palavra muito apreciada pelos nossos pseudo-intelectuais....Ainda não percebi muito bem o quer dizer, mas o problema deve ser meu.

Stander
Local de venda. A forma mais famosa é, sem dúvida, o 'stander' de automóveis.O 'stander' é um dos grandes clássicos do 'português da cromagem'...

Tipo
Juntamente com o 'É assim', faz parte das grandes evoluções da língua portuguesa. Também sem querer dizer nada, e não servindo para nada,pode ser usado quando se quiser, porque nunca está errado, nem certo.É assim... tipo, tás a ver?

Treuze
Palavras para quê? Todos nós conhecemos o númaro treuze.

Tiosque
Sitio onde se pode comprar jornais, revistas, pitaxios, etc.

Catatumbas
Sitio pra onde se pode ir depois de morto. Ex: 'Ê cá nã quere ir pra uma catatumba quere ir pró chão'

Cromade
Opção que se exerce em vida pra quando se morre. Ex: 'Ê cande morrer quere ser cromade'

Batoneira
Máquina que serve pra fazer betão, cimento. 'Ex: 'Moss, liga a batoneira'

Bassora
Também com a vertente 'vassoira'. Utensílio de limpeza de lixo.Normalmente tem a ajuda da 'apá' para a recolha do dito cujo.

Arrelampa
Local com inclinação acentuada. Ex: 'Moss, bora lá empurrar o barque aqui pla
arrelampa'

sábado, 2 de maio de 2009

Arte ou talvez não...


Tinha pensado em algumas legendas para esta foto captada na quarta-feira, 29 de Abril, à porta do RiaShopping. Mas a escolha está feita. O Olhanense é um livre pensador, de cultura judaico-cristã mas trazendo enraizada a visão romana da coisa: tudo o que é belo tem de ser prático!